maria [de fátima] toscano

que se considera uma buscadora da Fala Poética, tem vindo a crescer - desde maio de 1963 - alentejana de Campo Maior, em ligação encantada com gentes e lugares ( Abrantes ,Ilha do Sal ,Águeda ,Alentejo ,Lisboa ,País Basco e Coimbra ). Tal percurso de encantamento obriga a várias aprendizagens intermináveis ,entre as quais ,a da artesania do desengano.
Assim ,nos anos 70-80 ,participou em/dinamizou organismos culturais estudantis - 1978 - Liceu José Falcão: 1º Prémio de Poesia/Curso Geral, IIºs Jogos Florais; e Núcleo de Teatro co-fundador dos Encontros de Teatro na Escola ( Dir. Melo Alvim ); 1980 - Curso de Iniciação do TEUC ( Or. Deolindo Pessoa ); 1981 -integra o elenco das três primeiras peças de IBIS, Teatro Universitário -ISCTE ( fundado e encenado por Paulo Filipe; Prémio de Grupo Revelação/81 com "Drama em Gente - Exposição Fotográfica sobre Fernando Pessoa" ); formação em voz e canto ( Edith Piaf, Mahlr ), e de actor, por profissionais.
Meados de 80-90 - cantou e fez animação de diversos bares/restaurantes ( Lisboa e Coimbra ); música popular portuguesa e brasileira, fado; cafés-concerto ( canções de Piaf e textos próprios ); desde 1993 - tem vindo a aperfeiçoar o canto de Fado de Lisboa em acuações pontuais.
1991 - Na tertúlia de 8 de Março, no BOUTEQUIM, interpretou canções de Piaf, a convite de Natália Correia.
1998 - Participação breve numa canção do livro-cd "Poemigas. Versos y Canciones ( 1990-1997 ) - poesias de José Luis Arántegui; músicas de Miren Ariño ( ed. Espanha, "del Lunar", col. Del Nagual: 1998 ).
7 livros de Poesia Publicados.
Presença on line - está/esteve presente nalgumas páginas de poesia on line -
particularmente
( onde retirámos estas notas curriculares ).
Realçamos os seus blogues de intervenção estética e cultural -
http:/sulmoura.blogspot.com.
Integrou a escrita on-line de "o poema mais longo em língua portuguesa", o fulgor da língua -
aprofunda a escrita poética em espanhol, desde Novembro de 2003 ,in
http://www.elistas,net/lista/poetas-zaguan/.
Desde 1997 - tem criado e realizado o que designa como "rituais poéticos: sessões diferenciadas da prática declamatória, fundadas no cruzamento experimental de técnicas teatrais participativas do público-parceiro ...
No campo profissional é Socióloga desde 1986 - ISCTE, Lisboa. Ensina no Instituto Superior Miguel Torga de Coimbra desde Janeiro/1990 e - após Mestrado na FCSH-Univ. Nova/Lx, 1993 - prepara, no ISCTE, a dissertação de Doutoramento sobre "mulheres, socialmente designadas como pobres-excluídas, em processos de requalificação".


Branco da Casa

1.

pelo encantamento, essa mulher.
pelo enternecimento, voz pulsada a sangue, à mão.
pela austera brava marcha, filão da Luta olhar aceso pelo tempo, corpo - agora -ileso.
pelo encantamento, essa mulher.

toada primitiva e a caminho, ombreira em movimento, cama lavada rossio - pedonal,
mediterrânico, índio, tribal -

pelo encantamento, falo. da mulher

tem um caso sério com toda a causa humana, é um caso muito sério - do humano -
essa mulher

...

apresentas-te ao portão, roças o batente, tocas a campainha, chamas pelo nome, bates palmas,
assobias, sem ousar o trilho branco da casa

pela alameda clara cheira-te à madeira ao ananás, a sucos de memórias, vinhos a risos, brincadeiras e sustos incabíveis em relatos, em molduras, pela entrada da alameda ecoam aves, silvos esvoaçam rosas, palmeiras, dálias frondosas laranjas rolam-se em passadeiras doces assomam olhitos negros, caracóis louros morenos ombros mouros, mãos de mil dedos carnudos lábios da seiva que faz a sede de água cálidas frases, palavras estremosas - pela alameda que o portão franqueia à entrada
tem um caso com a bravura muito sério com a ternura. é um caso muito sério do mundo essa mulher.

...

sem ousares o trilho branco da casa alguma folha estalará. aqui e ali, uma pedra em branco te aguarda a moeda de ouro benzida pela cigana uma vela, a meio de ardida, o jarro da água a almofada tosca, de alfazema a túnica lisa pousada ao lado das sandálias e da taça onde a maçã se serve com passas e romãs.

sem ousares o trilho branco da casa a cor, simplesmente, reconheces à tua volta, a amendoeira em flor, sem ousares o trilho branco da casa de perfil, avista os cereais de onde a floresta antiga se assegura que a lonjura do areal - outra alameda - te conduza ao oceano em mar.

maria toscano
-branco de casa -( Bètera, Txalapartak ( Valência ), 31 julho a 6 agosto; e Madrid, 7 agosto 2003 )
-fragmento do livro inédito resguardo das Esfinges. declinações do Branco.


A Distância-Presente

( a partir de Maria Zambrano )

I. a renúncia, fracasso do êxtase?

"a ausência
é o avesso da memória"

Albano Martins -Colossos de Mémmon-
in O rosto das máscaras de A voz do olhar
( Assim são as algas. Porto: Campo das Letras, 2000 )

...
demais será nunca relembrar teu encantamento de alheamento habitado.
...
intensa e feroz serenamente ao Aflito Pedido da Poesia Acudiste
...
acolheste da solidão a Busca e cuidaste soberana do abraço ansiado sabor da Malga.
...
alheadamente quer dizer
distante da tábua
...
presente na fala soberanamente.
...
teu cabresto de sul chocalhando desde o Antigo país veio
...
soberano sereno alheadamente procurando a mais alta montanha
...
a da fala mediterrânica
...
fizeste o atlântico o azteca e o ibérico
...
cantos limiares terreiros da sombra no pino das horas
...
lábios do sal e poeira tosca
...
puídos entretantos esquinas da cal
...
catedral erguida meio ao alto no meio da memória anarquista a sangrar (catalã ainda) em rostos
varandas esbugalhados na Diagonal
...
virgens a negro de Lorca
...
arrojo de decotes a cor ensejos carnosos fintas e poses de Miller
...
touradas de coxas miradas espadas e mãos
...
da revolução gravaste
...
e leques e volúpias tangadas sapateadas dedilhadas
...
e as meninas tenras na tela de V.
...
e ossadas, e carabinas a água-forte do desse do surdo traído noutra revolução
apagadamente fulminaste o estágio o em trânsito.
...
encontraste do cálculo interno o raio que enlaça os mundos.
...
apagadamente chispaste o ou de cons, tambéns
...
saraste a greta na sabida na antiga acção da raiz ao pólen.
...
amorosamente apagadamente zembraste o homem

maria toscano
( fragmento de livro inédito )
nota - as reticências centradas na linha representam mudança de página
Coimbra, Setembro/2000; Dezembro/2001 a Fevereiro-Abril/2002

gabriela rocha martins
________________________
fotografias de Augusto Peixoto.

5 comentários:

Anónimo disse...

grata ponto silêncio ponto e uma lágrima doce que me veio aquecer a mão. grata. Bem Hajam! FOTOS BELAS, BELÍSSIMAS! AMBIÊNCIA MÁGICA QUE TORNA ENORME E BELO O QUE VOSSAS MÃOS LABORAM E NOS DÃO.
anonimamente, com o Fogo deste 2007, ano de fecho de ciclo. graTa.

Silvestre Raposo disse...

pode saber.se porque vexa não comentou ( agradeceu ) com o seu nickname e os seus blogues?
estamos numa de modéstia ,Maria T?

era o que faltava!!!!!!

beijos ,MT

Silvestre Raposo disse...

beijos MT mandados por MG, claro!!!!

emedeamar disse...

foi comoção!
bêjus

Isabel Victor disse...

Gostei tanto ...
Gostava de saber mais sobre ...

Obrigada

BlogAbraço
da
isabel do " Caderno de campo "

 
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